O que é pé caído — e por que ele aparece depois do AVC
Tecnicamente, o pé caído é a dificuldade de fazer dorsiflexão (levantar a ponta do pé) por fraqueza/paralisia dos músculos que executam esse movimento — tibial anterior, extensores dos dedos e do hálux — e/ou por falta de controle neural sobre eles. No AVC, a área cerebral que comanda esse padrão motor pode ficar lesionada; com isso, o “sinal” que desce pela medula para o tornozelo perde força e coordenação. Pense no pé como uma gangorra: de um lado, os músculos puxam a ponta para cima; do outro, o peso empurra para baixo. Se quem puxa não responde, a gangorra trava para baixo.
O corpo tenta compensar: surge a “marcha do robozinho” (elevação exagerada de quadril/joelho), passos curtos, apoio instável e tropeços frequentes. Com o tempo, o medo de cair reduz a autonomia e a participação nas atividades.
Sinais de alerta e impacto na marcha
Mesmo sem termos técnicos, alguns sinais ajudam a reconhecer o pé caído pós-AVC:
- arrasto da ponta do pé no chão (principalmente em pisos irregulares);
- “chutes” no chão ao avançar o passo;
- elevação exagerada do quadril para “liberar” o pé;
- desgaste atípico do calçado na região dos dedos;
- queixas de cansaço precoce e insegurança para caminhar.
Quanto mais cedo você identifica o padrão, mais rápida tende a ser a resposta ao tratamento.
Como a fisioterapia trata o pé caído: da avaliação à reeducação da marcha
O primeiro passo é uma avaliação neuromotora completa: força e ativação dos dorsiflexores, amplitude de tornozelo (dorsiflexão/plantiflexão), equilíbrio, sensibilidade, velocidade de marcha, risco de queda e possíveis espasticidades associadas. A partir daí, o plano combina mobilidade, força, coordenação e treino funcional — sempre explorando a neuroplasticidade, a capacidade do cérebro de criar “atalhos” para reaprender movimentos.
Em termos práticos, o programa costuma incluir:
Mobilidade direcionada do tornozelo. Sem dorsiflexão mínima, o corpo compensa de cima. Mobilizações suaves, alongamentos de panturrilha e talocrural “liberam” o movimento para que o pé consiga subir.
Fortalecimento específico. Exercícios ativos/assistidos para tibial anterior e extensores (ex.: dorsiflexão com faixa elástica, “toques” do antepé no solo em ritmo), além de estabilizadores proximais (glúteo médio/máximo e core) para reduzir oscilações do tronco.
Treino de marcha e de passada. Padrões de aterrissagem e fase de balanço com pistas sensoriais e visuais (marcas no chão, metrônomo, espelho), iniciando em barras paralelas/esteira e evoluindo para ambientes reais. O objetivo é transformar “pense e faça” em “faça sem pensar”.
Propriocepção e equilíbrio. Apoio unipodal progressivo, transferências de peso, viradas e mudanças de direção. Quanto mais o sistema sentir o pé no espaço, menor o risco de queda.
Eletroestimulação (quando indicada). A EMS pode facilitar a ativação dos dorsiflexores durante o exercício, “acordando” a via neuromuscular e reforçando o padrão correto de movimento.
O papel das órteses: segurança para treinar melhor
Em muitos casos, somamos uma órtese de tornozelo/pé para dar estabilidade e proteção enquanto a pessoa treina. Ela funciona como um “cinto de segurança” que impede que a ponta do pé desça demais e reduz tropeços até que o controle ativo retorne. É aqui que dispositivos como a órtese tipo tornozelo (ex.: soluções no estilo VitalTape) brilham: estabilizam sem “engessar” a reabilitação.
Ponto-chave de SEO e prática clínica: órtese não substitui fisioterapia. Ela permite treinar melhor, com menos medo, e acelerar ganhos de marcha, mas quem devolve a dorsiflexão é o exercício guiado e repetido.
Um caso real (e comum) na clínica
O “Seu Antônio” chegou após um AVC com pé caído à direita, tropeçando no tapete da sala. Começamos por mobilidade de tornozelo e exercícios assistidos de dorsiflexão, associamos eletroestimulação durante a passada e utilizamos uma órtese de tornozelo nas caminhadas iniciais. Em poucas semanas, a marcha ficou mais segura; em meses, ele já fazia suas voltas na praça com menos compensações e muito mais confiança. A fórmula? Constância + progressão gradual + combinação de recursos.
Rotina em casa: pequenas práticas que somam muito
Para fixar o aprendizado motor, a pessoa precisa repetir movimentos corretos ao longo do dia. Algumas ideias simples (sempre aprovadas pelo fisioterapeuta):
- séries curtas de dorsiflexão com elástico leve;
- “toques” alternados do antepé no chão, sincronizados com a respiração;
- caminhadas curtas e frequentes, em piso plano e bem iluminado;
- organização da casa para prevenir quedas (retirar tapetes soltos, calçados com bom ajuste).
A consistência fora da sessão é o que transforma progresso em autonomia.
Erros comuns que atrasam a recuperação
Dois hábitos sabotam muita gente: pular a base (mobilidade/força local e controle proximal) e confiar só no dispositivo externo. A órtese é aliada, mas quem “ensina” o cérebro é o corpo em movimento. Outro erro é querer “dar o troco” no tempo perdido aumentando demais a distância/velocidade — isso reacende compensações e cansaço.
Quando procurar ajuda (e o que esperar)
Se o pé está arrastando, se há quedas/“quase quedas”, ou se o cansaço aparece já nas primeiras voltas pela casa, procure fisioterapia neurológica. Com um plano bem feito, a maioria das pessoas nota melhora de segurança, fluência da passada e resistência nas primeiras semanas — e ganhos de autonomia ao longo dos meses.
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